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quarta-feira, julho 19, 2006

TV. Rádio. Biscoitos. Missões. Burma

Return to Cookie Mountain, TV on the Radio (2006) - 6

O álbum de 2006 com a maior hype? Pitchfork deu 9.1? Stylus deu A-? “Uma das melhores bandas de hoje em dia”? Perdão? Não. É definitivamente interessante, e depois de ouvi-lo umas 5 ou 6 vezes, ainda não estou certo do que achar dele, mas duvido muito que minha apreciação vai subir a níveis tão histéricos.

O maior problema do álbum de art-rock desses rapazes (4 deles são negros; não, você não precisava saber disso, mas todo mundo que falou do álbum teve a mesma misteriosa vontade de mencionar o fato) é que os vocais danificam a maioria das músicas, tanto pela sua presença quanto pela falta de presença. Eles têm a mania de deixar as linhas de vocal com multitrack, ou então fazer harmonias entre os dois vocalistas principais (um deles soa medíocre, o outro soa como se alguém tivesse cortado os (já pequenos) testículos do Prince), e o som das vozes fica embaçado e irritante. Dizem que o David Bowie faz uma participação especial na canção “Province”; eu não saberia dizer. O Tiririca podia ter cantado ali que os vocais iam continuar confusos e indecifráveis. Em “Wolf Like Me”, o single, o estrago é mais evidente, pois essa é uma das poucas faixas que contém evidência de energia própria, e teria funcionado muito bem sem a gritaria.

Eu digo “energia própria” porque quem está o elogiando fica mencionando como o álbum inteiro tem algum tipo de Atmosfera especial, que substitui a falta (fatal, eu diria) de ganchos. Infelizmente, tudo o que eu posso ver são guitarras e sintetizadores formando um buzz granulado não-muito-discreto no fundo, mas que não gera nenhuma profundidade em si. A produção também participa, tirando vida e verve de cada instrumento (e a drum machine usada aqui e ali não ajudada), com a pretensão de adicionar a essa “atmosfera peculiar”. Em alguns momentos, o disco me lembrou de trabalhos do Animal Collective -- como as batidas tribais de “Let the Devil In”, e os vocais simulando uivos e cantorias primitivas em “A Method” – só que mais mecânico e sem a mesma eletricidade.

Mas não é uma perda total. O fato do álbum ter me seduzido a ouvi-lo mais e mais vezes (e eu provavelmente vou continuar investigando) já mostra que as ambições da banda valem pra alguma coisa. E algumas das canções são ótimas. “I Was a Lover” tem um sintetizador estranho que, como Pitchfork disse em sua crítica, parece um elefante chorando; é algo que o Richard D. James inventaria. “Tonight” é linda; tem facadas escassas numa guitarra cheia de reverb que finalmente proporciona uma ambientação com efeito notável, e o vocal consegue ser agradável o suficiente pra me embalar na música. O resto do álbum devia ter sido assim.

Anyway, eu uploadei ele pra um amigo então já vou deixando o link aqui pra quem se interessar em baixar. Essa é a versão final com os nomes das faixas e a ordem correta.



The Obliterati, Mission of Burma (2006) – 8

Representação literária do novo disco do Mission of Burma:

POOOOW! BAAANG! KAZAAAAAM! TATATA! KABOOOOM! BLERGH! AAAAAARGH! POOOW! GUITARRAS! KAZAAAAAM! SANGUE! NAS! ORELHAS! KABOOOOM! ETC! POOOW! ESTUPRO! BAAAANG! KAPOOOW!

Sim. O álbum soa extremamente bombástico e gigantesco, como se na hora da mixagem todos estivessem usando algodão nos ouvidos e ficassem repetindo “Não to ouvindo nada, pode aumentar.” Nesse caso, é uma coisa boa. É como se os velhinhos da banda (que começaram nos anos 80, na era post-punk) quisessem mostrar quem é realmente rock ‘n roll para as “criancinhas” dominando o mercado. “Eu nasci nos anos 60. Eu engoli suor do Iggy Pop na época que ele ainda não tinha rugas. Nós sofríamos ameaças nucleares da União Soviética. Nós éramos Punk de verdade, cara. Har har!”.

Como os companheiros de profissão que surgiram na mesma época, o Sonic Youth, Burma tem uma fascinação imensa por guitarras e distorção e por experimentar o quanto puderem com isso, sem perder a energia. Assim como Sonic Youth, eles são uma banda de momentos mais do que canções. Você vai geralmente encontrar trechos e riffs e movimentos fantásticos dentro de cada faixa ao lado de partes mundanas e medíocres, que funcionam como tapa-buracos. A boa notícia é que o ótimo derruba o mundano na maioria dos casos. Obliterati abre com a excelente “2wice”, em que as guitarras são tocadas com uma constância frenética, formando uma onda de noise melódico que lembra o shoegaze do My Bloody Valentine, se o Kevin Shields tivesse muito, muito puto com alguma coisa. E embora a banda possua dois (ou 3?) vocalistas que provavelmente não nasceram pra serem vocalistas – e isso lembra de outra banda com musicalidade excelente e vocais horríveis que lançou álbum esse ano: The Joggers – o Burma ainda se esforça pra encontrar ganchos vocais divertidos como o refrão de “Is This Where?” e a linha frenética de “Good, Not Great” (que abre com a frase “Feeling kinda punk”).

Mas o destaque do álbum é “Careening With Conviction”, que certamente é uma das melhores músicas dos últimos 6 meses. Abre com um baixo musculoso, e o resto da banda entra com o vocalista gritando “She said fuck it all/Who’s gonna hear me when I call?”; alguns momentos depois a guitarra é dedilhada com delicadeza, e em 1:18 entra o riff mais intenso e violento que eu ouvi esse ano, que dura até 1:39. Isso é seguido de um solo dissonante lembrando uma furadeira, que é seguido pelo que parece ser uma guitarra solando ao contrário. E depois tudo se repete. É tão potente e vigoroso que você esquece que todo mundo da banda já passou da meia idade e provavelmente já estão preocupados com a aposentadoria.

4 Comments:

Blogger Pips said...

Como você quer se livrar do seu apelido, te chamarei de Luis, Luis.

Então Luis, desistiu um tempo do cinema, Luis?

Agora só o cenário musical, Luís?

Quem canta seus males espanta

=]

9:39 AM  
Blogger Luis Calil said...

Não Mullets Bundeta, é que nós estamos no "verão", só tem piratas, super-heróis e a Jennifer Aniston nos cinemas agora.

Quando algo interessante aparecer eu me animo.

2:09 PM  
Blogger Pips said...

Hey, eu fiz o que você pediu e te chamei de Luis =]

Mas o verão, o que é o verão? não é época do amor, mas o que é?

Você devia escrever sobre isso, Luis

10:47 AM  
Anonymous Anônimo said...

o que eu estava procurando, obrigado

1:28 PM  

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