O Tal do Sexto Sentido
Evento Recente N°1: Numa reunião familiar ontem à noite, o assunto se degenerou (como costuma acontecer) a histórias de aparições aparentemente sobrenaturais. Minha tia – na maioria das ocasiões uma pessoa sensata – começou a narrar sobre como há muito tempo atrás, ela e os seus dois filhos viram uma figura estranha, em plena luz do dia, cruzar o fundo do quintal da casa onde moravam. Quando questionada sobre a aparência da figura, ela respondeu que “parecia muito um Demônio.” Eu definitivamente fiquei surpreso; não só com a resposta, mas com a insinuação de que ela tinha alguma idéia de como demônios costumavam parecer. Eu, porém, estava desencorajado demais pra perguntar se era do tipo que usa cavanhaque, tridente e um bronzeado marciano, ou do estilo visualizado pelo Mel Gibson – um transexual careca.
Evento Recente N°2: Há algumas noites atrás, eu passei uma daquelas longas madrugadas conversando com um velho amigo que havia mudado e voltou para uma breve visita na cidade, pra pôr o papo em dia. Lá pelas três da madrugada, a conversa acabou se degenerando (como costuma acontecer) para as visões mirabolantes que a sua fé cristã o proporcionou. Além dos seus relatos de exorcismos que assistiu na igreja, entre outras coisas, ele também falou sobre sua mãe ter sido possuída pelo demônio (lá vem ele de novo) há vários anos atrás. Descreveu com detalhes sobre como era o dia-a-dia nessa época (imagine uma versão levemente mais amena de O Exorcista).
Entendam: eu confio nele – assim como eu confio na minha tia – na maior parte do tempo. Eles costumam ser espertos e sensatos. Como então posso conciliar isso com a minha descrença total no assunto? Não estou me referindo a demônios especificamente, mas qualquer coisa sobrenatural – espíritos, macumba, videntes, Papai Noel. E como o Sr. Ingmar Bergman, embora eu queira acreditar (porque, francamente, seria muito mais divertido), eu simplesmente não consigo me iludir a esse ponto. Mesmo tendo ocasionais acessos de medo violento – sou Ateu de dia e Agnóstico de noite – me mantenho cético.
Parte da minha razão em achar Donnie Darko um filme brilhante é que ele articula extremamente bem o processo de desespiritualização (tenho quase certeza que isso não é uma palavra, mas vocês entenderam) pelo qual vários futuros ateus passam, geralmente na adolescência. É uma história sobre um garoto que está começando a enxergar alguns fatos aterrorizantes sobre a Vida (e.g. a inevitável Morte representando o Fim, e nossa eterna e inerente Solidão), e sobre como sua mente perturbada faz tudo possível para afasta-lo desses fatos. É, em parte, sobre a capacidade de auto-enganação do ser humano, levada a um ponto nocivo, que acaba em tragédia. Ao contrário do Donnie, a maioria das pessoas consegue se desprender das visões do Coelhinho da Páscoa e seguirem suas vidas satisfeitas.
Mas e eles, então? Os que viram. Minha tia e meu amigo. Estão mentindo? Não, provavelmente não. Suas mentes os pregaram peças? Talvez. É importante notar que ambos são pessoas religiosas. Eu estou pressionando a minha mente aqui, mas não consigo lembrar de nenhuma história sobrenatural contada do ponto de vista de pessoas com uma visão mais aham científica do mundo, embora eu ache que já tenha ouvido algumas. E não há como não me perguntar por que essas coisas nunca acontecem comigo; é frustrante.
Vamos fazer o seguinte: eu peço aos (3 ou 4) leitores desse blog, de preferência os céticos como eu, a relatarem quaisquer acontecimentos sobrenaturais em que vocês foram os protagonistas, e para os quais não podem encontrar nenhuma explicação convincente. Podem ser também acontecimentos de pessoas que vocês conhecem e confiam. A seção de comentários pode não ter espaço suficiente, então me mandem por e-mail (folcouzala@yahoo.com); eu vou juntar todas as histórias e colocar num novo post aqui no blog (e talvez dar a minha opinião sobre elas). Vai lá, moçada, vamos explorar o lado metafísico da vida e etc.
PS: Olha o que acabou de acontecer a 5 minutos atrás: eu ouvi uma batida de carros muito (muito) alta vindo da avenida em frente ao meu prédio. Corri com o coração acelerado até a janela pra ver o que havia ocorrido, mas o acidente não estava no meu campo de visão. Então eu desvio a minha atenção pra um pequeno pássaro flutuando a uns 5 metros da minha janela. O pássaro, num vôo de alta velocidade, abocanha uma cigarra gigantesca voando na direção oposta, leva ela (que agita as asas desesperadamente) para o topo do prédio ao lado do meu e começa a estraçalhá-la. Na falta de transexuais carecas, eu tenho que me contentar com esses tipos de momentos mágicos.
Evento Recente N°2: Há algumas noites atrás, eu passei uma daquelas longas madrugadas conversando com um velho amigo que havia mudado e voltou para uma breve visita na cidade, pra pôr o papo em dia. Lá pelas três da madrugada, a conversa acabou se degenerando (como costuma acontecer) para as visões mirabolantes que a sua fé cristã o proporcionou. Além dos seus relatos de exorcismos que assistiu na igreja, entre outras coisas, ele também falou sobre sua mãe ter sido possuída pelo demônio (lá vem ele de novo) há vários anos atrás. Descreveu com detalhes sobre como era o dia-a-dia nessa época (imagine uma versão levemente mais amena de O Exorcista).
Entendam: eu confio nele – assim como eu confio na minha tia – na maior parte do tempo. Eles costumam ser espertos e sensatos. Como então posso conciliar isso com a minha descrença total no assunto? Não estou me referindo a demônios especificamente, mas qualquer coisa sobrenatural – espíritos, macumba, videntes, Papai Noel. E como o Sr. Ingmar Bergman, embora eu queira acreditar (porque, francamente, seria muito mais divertido), eu simplesmente não consigo me iludir a esse ponto. Mesmo tendo ocasionais acessos de medo violento – sou Ateu de dia e Agnóstico de noite – me mantenho cético.
Parte da minha razão em achar Donnie Darko um filme brilhante é que ele articula extremamente bem o processo de desespiritualização (tenho quase certeza que isso não é uma palavra, mas vocês entenderam) pelo qual vários futuros ateus passam, geralmente na adolescência. É uma história sobre um garoto que está começando a enxergar alguns fatos aterrorizantes sobre a Vida (e.g. a inevitável Morte representando o Fim, e nossa eterna e inerente Solidão), e sobre como sua mente perturbada faz tudo possível para afasta-lo desses fatos. É, em parte, sobre a capacidade de auto-enganação do ser humano, levada a um ponto nocivo, que acaba em tragédia. Ao contrário do Donnie, a maioria das pessoas consegue se desprender das visões do Coelhinho da Páscoa e seguirem suas vidas satisfeitas.
Mas e eles, então? Os que viram. Minha tia e meu amigo. Estão mentindo? Não, provavelmente não. Suas mentes os pregaram peças? Talvez. É importante notar que ambos são pessoas religiosas. Eu estou pressionando a minha mente aqui, mas não consigo lembrar de nenhuma história sobrenatural contada do ponto de vista de pessoas com uma visão mais aham científica do mundo, embora eu ache que já tenha ouvido algumas. E não há como não me perguntar por que essas coisas nunca acontecem comigo; é frustrante.
Vamos fazer o seguinte: eu peço aos (3 ou 4) leitores desse blog, de preferência os céticos como eu, a relatarem quaisquer acontecimentos sobrenaturais em que vocês foram os protagonistas, e para os quais não podem encontrar nenhuma explicação convincente. Podem ser também acontecimentos de pessoas que vocês conhecem e confiam. A seção de comentários pode não ter espaço suficiente, então me mandem por e-mail (folcouzala@yahoo.com); eu vou juntar todas as histórias e colocar num novo post aqui no blog (e talvez dar a minha opinião sobre elas). Vai lá, moçada, vamos explorar o lado metafísico da vida e etc.
PS: Olha o que acabou de acontecer a 5 minutos atrás: eu ouvi uma batida de carros muito (muito) alta vindo da avenida em frente ao meu prédio. Corri com o coração acelerado até a janela pra ver o que havia ocorrido, mas o acidente não estava no meu campo de visão. Então eu desvio a minha atenção pra um pequeno pássaro flutuando a uns 5 metros da minha janela. O pássaro, num vôo de alta velocidade, abocanha uma cigarra gigantesca voando na direção oposta, leva ela (que agita as asas desesperadamente) para o topo do prédio ao lado do meu e começa a estraçalhá-la. Na falta de transexuais carecas, eu tenho que me contentar com esses tipos de momentos mágicos.
20 Comments:
Infelizmente eu não me lembro de nenhum evento sobrenatural não-induzido por drogas acontecendo comigo.
maldito hippie
achei teu blog, que é bem legal if you ask me, involuntariamente no tal do google, você não me conhece.
mas então, um dia eu pedalava minha bicicleta com aceleração constante, até que com zero motivos eu decidi frear. sem motivos MESMO. e tão só isso ocorreu, um tijolo despenca de uma construção para o ponto onde eu deveria estar no dado momento, caso não houvesse freado, e seria from here to eternity.
eu não sei se isso se encaixa na situação que vc pediu, mas é um fato que ainda hj eu me lembro (já faz uns 6 anos) e me assombro.
Khansc, não sou eu. Eu não sou fã de bicicletas.
André, boa história. E cômica. Se eu tivesse na sua situação, eu teria dado uma boa gargalhada.
E talvez xingado o pedreiro.
PS: O que você estava procurando no Google que te trouxe aqui?
bergman
na verdade era bergman + alguma coisa, só que não lembro o quê.
Ok, não lembro de algo que possa ser realmente comprovado, mas muitas vezes de noite (sempre de noite) quando eu morava na casa da minha vó (aquela bem religiosa vinda do interior, que benze as pessoas), vi vultos negros (como se fossem encapuzados, sabe nazgul? sim, então, e o filme não tinha saído,etc)...passando pelo corredor e indo para o da minha vó. Um dia, pelo que me lembro, um dos vultos errou de quarto e acabou por ficar parado no meu, e ahn, eu não conseguia abrir os olhos e ver nitidamente a figura na minha frente, sem contar que eu tentava lembrar alguma reza (tipo o credo) para espantar a figura, eu não sabia rezar (e ainda não sei).
Talvez fossem pessoas de verdade participando de um ritual religioso da sua vó? Talvez você estivesse sofrendo de pesadelos recorrentes?
Suspeito, pips. Nunca perguntou sobre isso pra sua vó?
meu vizinho se matou com um tiro na cabeça. aí, um dia, eu estava vendo tv no meu quarto, quando senti uma brisa fria e fui até a janela para fechá-la. quando olho para fora, para a casa do vizinho, vejo uma pessoa pulando na piscina. detalhe: era de madrugada, estava ventando e chovendo, e não tinha ninguém na casa pois a família havia viajado. fiquei olhando enquanto o indivíduo nadava até o lado oposto e levantava. de repente, na escuridão, ele olhou para mim de repente, como se soubesse que eu estivesse olhando o tempo inteiro. abaixei na hora e saí correndo. quando olhie de novo, minutos mais tarde, não havia mais ninguém.
mas nunca atribui este fato a um acontecimento sobrenatural - ao contrário do que faria a maioria das pessoas que conheço. semrpe disse a mim mesmo que era o caseiro que decidiu fazer uma maluquice (embora eu tenha sérias dúvidas se sequer existia um caseiro naquela casa, além de que a pessoa, ainda que estivesse escuro para perceber detalhes, se parecesse bastante com um adolescente).
ah, esqueci dum detalhe.
quando eu saí correndo do meu quarto e desci até a cozinha pra falar com a minha mãe, ela tava com uma cara super chocada e assustada. ela disse que a imagem do vizinho tinha do nada ficado na cabeça dela e não queria sair.
tipo, quais são as probabilidades disso acontecer? minha mãe DO NADA começar a pensar no cara exatamente no mesmo momento que eu presenciava aquela cena mágica da janela do meu quarto?
é, fica aí algo para se pensar.
uma vez eu estava deitado na cama da casa de campo dos meus avós. por volta da hora do almoço, janela aberta. ouvi o som de pedras (ou algodotipo0 rolando pelo telhado e caindo no chão (detalhe: pedras rolando num telhado de telhas + pedras caindo no chão de uma altura de 3 metros ou mais = sim, realmente, SOM) e quando fui ver, não tinha nada lá.
e daí um careca transexual passou correndo, mas isso é normal por lá então ok.
ah sim, e a sala de cinema da cidade chama Sala do Doutor Além.
Amém.
Ristow, obrigado por me assustar.
Kim, isso tá me cheirando menos a "Fantasmas no Telhado" e mais a "Ratos no Telhado". Um detetizador deve resolver o problema.
Ah, eu tenho uma história interessante, que se passou comigo durante um mês dos meus nove anos. Depois escrevo e te mando por e-mail, apesar de que eu mesmo já encontrei a resposta.
Sobre exorcismo, encapetamento e afins: Meu professor de Filosofia da Religião II foi Padre Exorcista durante 10 anos. Ele disse que 99,9% dos casos que presenciou não tinham absolutamente nada relacionado a demônios, e os outros 0,1% não tinham uma explicação certa, embora não indicassem diretamente um "encapetamento". Ele também disse algo mais ou menos assim:
"O mais comum é quando há uma auto-sugestão, que ocorre quando a pessoa está muito concentrada - tornando-se mais susceptível às palavras dos outros. O restante dos casos são fenômenos naturais que interferem em nossa mente através de vibrações, fazendo com que nosso organismo aja de maneira diferente (e existem pessoas mais sensíveis à essa interferência)."
Sobre a auto-sugestão eu não preciso comentar. Agora, sobre os fenômenos naturais, que, a meu ver, são mais divertidos, o professor citou alguns casos. Vou limitar-me a escrever apenas um:
"Eu havia sido requisitado para expulsar um demônio de uma moça que havia se mudado com a família recentemente. Quando cheguei lá, observei todos os cômodos da casa, fiz algumas perguntas à família e eles me disseram que o "encapetamento" (eu adoro essa palavra huahua) ocorria sempre à noite. Então eu peguei um *aparelho que treme ao captar vibrações, eu esqueci o nome* e fui investigando a casa. Quando cheguei ao quarto da garota, o *aparelho* começou a vibrar exatamente ao centro do quarto. Então sugeri para que ela passasse a dormir em outro lugar.Então, ela nunca mais foi 'possuída', e eu havia feito umas pesquisas na prefeitura e descobri que exatamente no local onde ela dormia havia um 'cruzamento' de lençóis freáticos que interferiam nas vibrações do local, provocando alterações nas vibrações mentais da moça - que era mais suscpetível à essas interferências."
\o/ Nada de capeta!
O que uma alma iria fazer nandado?
nadando*
¬¬'
Nunca aconteceu nada comigo, eu sou extremamente cético com relação a qualquer coisa nesse sentido. Mas quando morávamos no apartamento em Moema, aqui em São Paulo, e meus pais ainda eram casados, eu dormia no quarto com a minha irmã (ela devia ter uns 7 ou 8 anos). E ela, de noite, via pessoas no teto do quarto. Eu não lembro disso, mas minha mãe teve que chamar um padre (acho que um padre) pra benzer o lugar. Depois de umas 3 aparições, ela parou de ver.
eu tinha escrito um relato muito bom sobre eu ser sugado por um piano que tocava sozinho, mas deu pau na hora de postar e não vou escrever de novo.
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