Sim, Eu Sou Uma Faca
There's A Beat In All Machines, Veto (2006) - 9
O canal da Sony mostra umas “vinhetas” entre os programas que informam notícias (leia: fofocas) e a bilheteria dos filmes da semana, e enquanto isso, toca no fundo o single de alguma banda independente do momento. Eu devo agradecê-la, porque nessa vinheta eles costumam selecionar músicas realmente boas, e eu descobri por lá bons artistas como Ulrich Schnauss e, mais recentemente, Hot Chip (e no momento estão tocando “In The Morning” do Junior Boys). Já em matéria de clipes mostrados na programação, eles fedem. Nos últimos meses, parece que decidiram comprar alguma espécie de pacote “Cantoras Francesas Semi-Obscuras - Três Por Uma”. A medíocre Emilie Simon copia animação do Tim Burton, depois finge que é uma boneca de palha e canta uma música inteira na mesma nota. Outra termina o clipe segurando um coração vivo na mão. Isso pra não falar dos Detonautas e CPM22 que já apareceram. De qualquer forma...
É pra minha surpresa então que às 3 da madrugada - cansado e bêbado, jogado na cama e assistindo a reprise de algum seriado ruim enquanto espero o sono bater, com os olhos semi-cerrados - eu escuto algo espetacular. É um sintetizador sendo tocado num ritmo desconfortável, sem nenhuma melodia particular, mas com uma textura galvanizante; é um gancho, por mais desconcertante que seja. Ele lembra algum experimento do Aphex Twin. De repente, uma bateria saltitante e vocais desesperados começam a construir uma canção post-punk-esca em volta desse “gancho”, e funciona como mágica. Eu arregalo os olhos e presto atenção. No momento, lembro vagamente do clipe, uma animação mostrando prédios futuristas estilo-Metrópolis, mas não estou preparado pra falar qualquer coisa positiva ou negativa sobre ele. Só sei que o gancho e a canção que se desenrolou ficaram gravados na minha cabeça. Eu peguei uma caneta e um papel e esperei o canal mostrar os créditos. A banda era Veto, e a música era “You Are A Knife”.
No dia seguinte, faço uma busca no Google e a maioria dos sites que aparecem estão em uma língua que eu não compreendo. Um pouco mais de pesquisa e eu chego à informação de que eles são dinamarqueses, e muito pouco conhecidos. No Allmusic, a única banda chamada Veto é algo de Heavy Metal dos anos 80, o que Veto não pode ser. Volto pro Google e descubro mais: o disco de estréia deles, chamado There’s A Beat In All Machines, ainda não saiu em lugar algum além da Dinamarca. O que é uma pena, pois assim que eu o encontrei (eMule) e ouvi, meu primeiro pensamento foi: “Por que eles não são uma das bandas mais faladas/ouvidas/xingadas do momento? Cadê o hype? Ou já passou e eu perdi?”. A verdade é: Veto mantém a qualidade e energia do single pelo álbum todo. É brilhante. Cada música é cheia dos seus charmes individuais, mas a consistência estilística mostra que os rapazes sabem exatamente o que estão fazendo e onde querem chegar. A bateria - que consegue ser o elemento de destaque em várias faixas – usa ritmos quebrados e escorregadios, nunca deixando você se acostumar. Isso não é inovador por si só (Techno, Kraut, etc), mas quando inserido num contexto de indie rock, o resultado pode ser eletrizante (veja também: “Myxomatosis” do Radiohead).
O clima que percorre todo o disco é de dystopia futurista (o mesmo representado no clipe), gerado por sintetizadores muito bem usados - como “I Brought BBQ” - e a ocasional drum machine, além da constante tensão nas composições e a produção espaçosa. Mesmo nas “baladas”, sempre há uma sensação de que a musica está preste a explodir e virar algo violento e agressivo, e quando acontece (“From A to B”), não tenha dúvidas de que o seu queixo irá se desprender do crânio e pousar em algum lugar próximo ao seu pé (mas não se preocupe, não será doloroso).
Não tenho certeza se é o melhor do ano até agora, mas com certeza o mais impressionante. Baixe ele aqui. A senha para abrir o arquivo rar é beat. Divirta-se.