There Will Be Blog

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quarta-feira, setembro 27, 2006

Sim, Eu Sou Uma Faca



There's A Beat In All Machines, Veto (2006) - 9

O canal da Sony mostra umas “vinhetas” entre os programas que informam notícias (leia: fofocas) e a bilheteria dos filmes da semana, e enquanto isso, toca no fundo o single de alguma banda independente do momento. Eu devo agradecê-la, porque nessa vinheta eles costumam selecionar músicas realmente boas, e eu descobri por lá bons artistas como Ulrich Schnauss e, mais recentemente, Hot Chip (e no momento estão tocando “In The Morning” do Junior Boys). Já em matéria de clipes mostrados na programação, eles fedem. Nos últimos meses, parece que decidiram comprar alguma espécie de pacote “Cantoras Francesas Semi-Obscuras - Três Por Uma”. A medíocre Emilie Simon copia animação do Tim Burton, depois finge que é uma boneca de palha e canta uma música inteira na mesma nota. Outra termina o clipe segurando um coração vivo na mão. Isso pra não falar dos Detonautas e CPM22 que já apareceram. De qualquer forma...

É pra minha surpresa então que às 3 da madrugada - cansado e bêbado, jogado na cama e assistindo a reprise de algum seriado ruim enquanto espero o sono bater, com os olhos semi-cerrados - eu escuto algo espetacular. É um sintetizador sendo tocado num ritmo desconfortável, sem nenhuma melodia particular, mas com uma textura galvanizante; é um gancho, por mais desconcertante que seja. Ele lembra algum experimento do Aphex Twin. De repente, uma bateria saltitante e vocais desesperados começam a construir uma canção post-punk-esca em volta desse “gancho”, e funciona como mágica. Eu arregalo os olhos e presto atenção. No momento, lembro vagamente do clipe, uma animação mostrando prédios futuristas estilo-Metrópolis, mas não estou preparado pra falar qualquer coisa positiva ou negativa sobre ele. Só sei que o gancho e a canção que se desenrolou ficaram gravados na minha cabeça. Eu peguei uma caneta e um papel e esperei o canal mostrar os créditos. A banda era Veto, e a música era “You Are A Knife”.

No dia seguinte, faço uma busca no Google e a maioria dos sites que aparecem estão em uma língua que eu não compreendo. Um pouco mais de pesquisa e eu chego à informação de que eles são dinamarqueses, e muito pouco conhecidos. No Allmusic, a única banda chamada Veto é algo de Heavy Metal dos anos 80, o que Veto não pode ser. Volto pro Google e descubro mais: o disco de estréia deles, chamado There’s A Beat In All Machines, ainda não saiu em lugar algum além da Dinamarca. O que é uma pena, pois assim que eu o encontrei (eMule) e ouvi, meu primeiro pensamento foi: “Por que eles não são uma das bandas mais faladas/ouvidas/xingadas do momento? Cadê o hype? Ou já passou e eu perdi?”. A verdade é: Veto mantém a qualidade e energia do single pelo álbum todo. É brilhante. Cada música é cheia dos seus charmes individuais, mas a consistência estilística mostra que os rapazes sabem exatamente o que estão fazendo e onde querem chegar. A bateria - que consegue ser o elemento de destaque em várias faixas – usa ritmos quebrados e escorregadios, nunca deixando você se acostumar. Isso não é inovador por si só (Techno, Kraut, etc), mas quando inserido num contexto de indie rock, o resultado pode ser eletrizante (veja também: “Myxomatosis” do Radiohead).

O clima que percorre todo o disco é de dystopia futurista (o mesmo representado no clipe), gerado por sintetizadores muito bem usados - como “I Brought BBQ” - e a ocasional drum machine, além da constante tensão nas composições e a produção espaçosa. Mesmo nas “baladas”, sempre há uma sensação de que a musica está preste a explodir e virar algo violento e agressivo, e quando acontece (“From A to B”), não tenha dúvidas de que o seu queixo irá se desprender do crânio e pousar em algum lugar próximo ao seu pé (mas não se preocupe, não será doloroso).

Não tenho certeza se é o melhor do ano até agora, mas com certeza o mais impressionante. Baixe ele aqui. A senha para abrir o arquivo rar é beat. Divirta-se.

terça-feira, setembro 05, 2006

Everyday



Então um cara decidiu tirar uma foto de si mesmo todo dia por 6 anos e fez uma montagem juntando todas elas em alta velocidade, e com uma trilha Yann Tiersen-esca no fundo. Soa como uma idéia intrigante que corria risco de cair num buraco de narcisismo dispensável, mas o resultado ficou ótimo.

De certa forma, o filme funciona como um daqueles trabalhos do Stan Brakhage em que ele pinta cada quadro de uma película com formatos diferentes e coloridos, e mostra eles em 24fps. Do mesmo jeito que aqueles filmes forçavam você a tentar encontrar padrões no meio do caos abstrato (ou se perder nele), o plano de fundo das fotos de Everyday se transformam de um jeito hipnótico, às vezes sutilmente - o angulo da camera num quarto variando, uma cueca pendurada na cadeira desaparecendo, ou então a luz do dia virando luz artificial - às vezes violentamente - um quarto se transformando num shopping ou num carro, ou mudando pra um filtro verde ou vermelho.

Mas o efeito do fundo mutante só é impressionante porque o rosto do Noah permanece enquadrado sempre na mesma posição, e geralmente com a mesma expressão apática; é como se ele tivesse recortado a sua face e colado por cima de milhares de fotos. É divertido ver o cabelo dele crescendo aos poucos e diminuindo abruptamente, ou em certos trechos dançando de um lado pro outro como se estivesse acompanhando o ritmo do piano. Se você for atento, vai ver que em uma das fotos dá pra ver uma mulher no fundo, e em alguns quadros ele está sem camisa, ou com uma gravata borboleta, etc. Eu acho que algumas vezes ele até arrisca um sorriso, mas eu não tenho certeza.

Há algum ponto no filme? O Sr. Noah queria expressar alguma coisa pros YouTubeiros além de “eu adoro o meu rosto (e vou continuar adorando por 2356 dias)”? Será talvez uma metáfora sobre a incapacidade do Homem mudar sua essência, independente do seu Ambiente ou da força do Tempo? Ou será que ele apenas queria mostrar que, se alguém é feio em 2000, ele vai continuar feio em 2006? Não sei. Pelo piano dramático, a impressão é que ele está seguindo a rota mais séria, embora a música dê um tom de “Importância” desnecessário. Uma música pop clássica e levemente melancólica teria sido melhor; imagine o quanto o filme ia ficar perfeito com “A Day In The Life” dos Beatles no fundo, ou algo do tipo.


PS: É uma pena que o Michael Jackson não teve essa idéia antes. Teria sido o filme mais aterrorizante de todos os tempos.