There Will Be Blog

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quarta-feira, fevereiro 28, 2007

O Rosto Vermelho da Lula Infernal

A Lula e a Baleia (Noah Baumbach, 2005)
(75)

(DVD; segunda vez)

*O melhor do filme é a natureza idiossincrática das memórias de Baumbach, o que sedimenta o fato do filme ser realmente autobiográfico. Detalhes como a Mãe arrancando uma pele seca dos lábios, ou o Pai pedindo para os meninos esperarem no carro enquanto ele dirige pelo quarteirão procurando uma vaga; é esse tipo de coisa que torna o filme fascinante. É como ver uma série gravações caseiras da família (e a textura granulada da Super 16 com que o filme foi filmado ajuda), só que tremendamente bem editadas (o filme é conciso, cortante, e flui com perfeição) e dirigidas (câmera segurada na mão com elegância, jump-cuts, etc).

*Além disso, o humor perspicaz do Baumbach é hilário - dessa vez menos esnobe, mas não menos sutil. Jessie Eisenberg falando sobre um livro de Kafka que não leu: “Yeah, it’s very Kafkaesque”. Sua namorada: “Cause it’s written by Franz Kafka.” Ele: “Right. I mean, clearly.” Se você consegue enxergar o quanto esse diálogo é genial, o filme (e a obra de Baumbach e Whit Stillman) é para você.


Paraíso Infernal (Howard Hawks, 1939)
(76)

(DVD; segunda vez)

*É bastante Hawksiano (ha ha). Os primeiros 30-40 minutos são excelentes, a narrativa movendo agilmente entre eventos, introduzindo a personagem da Jean Arthur, o clima fogoso do bar sul-americano (não me lembro exatamente onde o filme se passa), a equipe carismática do aeroporto semi-clandestino – incluindo, é claro, Cary Grant, que está monstruosamente divertido – o primeiro acidente fatal e a forma com que ele é lidado. O filme apresenta um grupo de pessoas que precisa controlar e reprimir seus sentimentos devido à natureza de seus empregos (e isso obviamente acaba atrapalhando vários outros aspectos de suas vidas, etc). Depois disso, a Jean Arthur meio que desaparece do filme, a Rita Hayworth aparece num personagem meio sem graça, a narrativa arrasta um pouco – com a chegada do “piloto amoral” tornando o filme tematicamente mais interessante, mas não necessariamente mais empolgante. Ainda é ótimo em geral, com um final matador.


Tempo de Decisão (Noah Baumbach, 1995)
(71)

(DVD; duas vezes)

*Um 71 significa basicamente que o filme é ótimo, re-assistível e provavelmente ficaria entre os 15 melhores do seu ano de lançamento. Mas a experiência de ver Decisão (uma tradução apropriada mas idiota do título original: Kicking and Screaming) é muito mais valiosa. É provavelmente a melhor introdução para o mundo “esnobismo” cômico citado acima, explorado por Baumbach e Stillman. Personagens super-articulados e geralmente inteligentes reclamam egocentricamente de suas vidas, usam sarcasmo como um escudo de proteção do mundo, liderados pelo rei dos reis, Chris Eigeman. Nesse, são 4 amigos que acabaram de terminar a faculdade, mas decidem continuar não fazendo nada e evitando confrontos e responsabilidades no campus. São espertos demais para serem crianças, mas imaturos demais para serem adultos.

*Eu vi duas vezes seguidas (num espaço de 24 horas) simplesmente porque, embora o filme em si tenha uma estrutura errante, momentos desinteressantes e nenhuma trama para proporcionar propulsão, o prazer de vê-lo ainda é imenso. Não só pela auto-identificação – eu reconheci tanto o meu próprio comportamento ali (e de vários amigos) que foi meio assustador – mas também porque o senso de humor de Baumbach está em perfeita sincronia com o meu. Por exemplo: um dos personagens mais avoados (interpretado por Carlos Jacott) fica misteriosamente colocando o controle remoto da TV na sua mala toda vez que decide viajar; quando Jacott pergunta se o fato dele ter colocado a mão na boca depois de pegar em dinheiro pode fazer mal, Eigeman responde completamente sério: “É claro. São assim que germes se espalham.”; Parker Posey conta que traiu o namorado escrevendo isso letras grandes numa folha de caderno (toque de ouro: alguns segundos depois de mostrar a folha, ela desenha um smiley triste ao lado da mensagem). Há algo do tipo a cada minuto, embora eu prefira evitar mencionar qualquer coisa além disso, pra não estragar a experiência.

*Eu sinto que a nota vai subir a cada nova assistida.


Luzes Vermelhas (Cedric Kahn, 2004)
(73)

(DVD)

*Outro filme cujos primeiros 40 minutos são excelentes. Kahn dirige e constrói a narrativa com tremenda precisão e um ritmo perfeito; a própria experiência de ver um filme tão bem feito é quase mais excitante do que o que está acontecendo nele (embora isso também seja excitante). Perde um pouco de fôlego quando o protagonista dá A Carona, recupera nos eventos claustrofóbicos do dia seguinte (especialmente a maravilhosa cena dos 1001 telefonemas). Vejam.


O Segundo Rosto (John Frankenheimer, 1966)
(61)

(DVD; segunda vez)

*PARANOIA! DESESPERO EXISTENCIAL! ALGUM TIPO DE FESTA PAGÃ! JAMES RANDOLPH É GORDO! Frankenheimer filma tudo de um jeito histérico, esquentado e desleixado, que vai ficando mais e mais irritante. As encenações são desairosas, com os diálogos cheio de pausas estranhas e atuações mal-calibradas. O que esse filme precisava, no entanto, era de uma certa estabilidade para equilibrar a premissa absurda; eu consigo imaginar o David Fincher fazendo um remake excelente, ou melhor ainda, Antonioni no começo dos anos 60 (a segunda metade é o tipo de coisa que ele domina com mestria). Aliás, até o Kim Ki-Duk seria apropriado (Time lida com uma premissa similar e possuiu o clima ideal).

*Que eu ainda gostei do filme mostra o quanto essa premissa absurda tem potencial. O desespero existencial do protagonista não é lidado com muita habilidade, mas ele ainda está lá, e é extremamente palpável. O que exatamente satisfaria Wilson/Hamilton? Será que há algo que pode proporcionar essa satisfação? Etc.


Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (Michel Gondry, 2004)
(81)

(Telecine; quarta vez)

*Não tenho o que falar. É brilhante em todos os sentidos. (Só a subtrama do povo da Lacuna Inc. no apartamento do Joel costumava me irritar um pouco, mas dessa vez foi agradável, e eu consigo enxergar sua necessidade).


Próximo post vai ser algum tipo de lista.

domingo, fevereiro 18, 2007

Nikolai, Youth Mortician!

Deixei os filmes irem acumulando... Olha a merda que deu. Comentários mais breves ainda do que o normal, mas pelo menos estou falando sobre tudo que eu vi nesse meio tempo (é um exercício de disciplina):


Memórias de um Assassino (Bong Joon-ho, 2003)
(62)

(DVD)

*Olá, Bong. Um aviso: Distúrbio Maníaco-Depressivo (hoje conhecido como Desordem Bipolar) já tem tratamento. É essencial que este tratamento seja buscado, especialmente no seu caso, onde você alterna cenas de comédia e melodrama de 2 em 2 minutos, com resultados geralmente desengonçados e ineficazes. Podia ter sido excelente nas mãos de alguém com mais rigor - não necessariamente eliminando o humor, mas tornando ele menos escrachado e estúpido, e inserido nos momentos apropriados. Ainda é um filme ambicioso, levemente divertido, cheio de detalhes, e com um epílogo emocionante.


The Host (Bong Joon-ho, 2006)
(68)

(DVD)

*Olá, Bong. Vejo que você começou a usar o medicamento para Desordem Bipolar pelos primeiros 25 minutos desse filme, mas depois abandonou o tratamento. O que aconteceu, meu rapaz? O prólogo acompanha agilmente a criação e o desenvolvimento do monstro, e a primeira cena de ação te pega desprevinido – Bong não perde tempo criando suspense para a introdução da criatura, e a joga bem na sua cara – e é brilhante. Depois disso, o filme vai desmontando com uma narrativa errante, cenas arrastadas que não levam a lugar nenhum, subtramas desnecessárias, pouco foco, etc. Como no caso de Memórias, o filme ainda permanece levemente divertido, mas tinha tanto potencial...


Time (Kim Ki-Duk, 2006)
(75)

(DVD; segunda vez)

*Eu já escrevi sobre esse na minha cobertura do festival de SP do ano passado, e os meus comentários lá ainda estão válidos. O Kim Ki-Duk aparece com um conceito genial nas mãos e o explora habilmente. Em alguns trechos do segundo e terceiro ato eu fiquei constantemente segurando lágrimas. Se fosse só um pouquinho melhor, podia ter sido um clássico.


O Coração do Mundo (Guy Maddin, 2000)
(86)

(DVD; quinta vez)

*Ao contrário do filme anterior, nesse eu nem me preocupei em segurar lágrimas. Um filme que consegue te emocionar como se fosse um trator atropelando o seu sistema nervoso merece bastante mérito, especialmente se ele só dura 6 minutos. É sobre como problemas pessoais podem parecer catástrofes mundiais para os envolvidos, é sobre – como em Casablanca – o valor de sacrifícios pessoais para o bem maior, é sobre arte como terapia, entre outros. Uma obra-prima.


Dave Chappelle’s Block Party (Michel Gondry, 2005)
(74)

(AVI)

*É um documentário retratando o comediante Dave Chappelle planejando uma festa de música no seu bairro, no Brooklyn. O filme intercala cenas dos shows de Hip-Hop e R&B na festa com cenas do planejamento, dos convidados recebendo seus convites, Dave zoando com todo mundo, etc. O que mais você precisa? Um mapa? Faça-me o favor.


Filhos da Esperança (Alfonso Cuaron, 2006)
(51)

(DVD)

*Fala sério. Quem escreveu esse roteiro? Os filhos do Cuaron? Nesse caso, eles não tem esperança.


À Procura da Felicidade (Gabriele Muccino, 2006)
(67)

(Cinema)

*A trilha é horrorosa, mas o resto é surpreendentemente competente. Ainda há uma certa quantidade de manipulação barata, mas a história (baseada em fatos reais) em si é tão emocionante que eu passei a segunda metade toda segurando lágrimas (sim, de novo). Eu estava literalmente pensando: “Putz, eu não posso começar a soluçar alto aqui. Controle-se, Luis”. E não, eu não estou ficando sentimental. O roteiro é esperto, e mantém-se ocupado constantemente criando obstáculos para o protagonista, que vão acumulando e amontoando até chegar à um nível desesperador. E eu também aprecio o fato do filme propor e dramatizar a idéia de que a felicidade não é necessariamente um estado, mas sim uma emoção evasiva e efêmera, e que mesmo assim deve ser perseguida. O clímax, depois de duas horas de sofrimento, se torna quase transcendental (em grande parte por causa da atuação do Will Smith). Vejam.


Miami Vice (Michael Mann, 2006)
(58)

(DVD)

*Muito bem dirigido e montado, divertido até certo ponto, e a imagem da câmera HD está fantástica, embora a movimentação ainda seja escrota. Parece um filme que o Steven Soderbergh faria, só que sem o seu senso de humor.


Comedian (Christian Charles, 2002)
(55)

(AVI)

*Inútil se você já compreende o óbvio: sim, ser um comediante é difícil; sim, lidar com platéias é difícil; sim, o Seinfeld é foda; sim, sucesso não torna a criação artística mais fácil. Etc. Com isso dito, eu me diverti bastante. O filme tem uma trilha sonora de jazz, acompanha conversas de comediantes em bares noturnos e clubes de comédia, mostra um retrato dos bastidores de como é ser Seinfeld, é leve e despretensioso. Vale a pena procurar se você é interessado no assunto.


Irma Vep (Olivier Assayas, 1996)
(79)

(DVD; segunda vez)

*Já escrevi sobre ele. Como eu disse antes, é uma festa. Não tem erro.


Apocalypto (Mel Gibson, 2006)
(59)

(Cinema)

*Vou copiar o que eu escrevi em outro lugar: "O Mel Gibson mostra como os povos indígenas se "auto-destruiram", mas não é por causa do conflito entre tribos diferentes (esse pode ser o motivo histórico, mas não é o que o filme está interessado). Gibson deixa implícito - através de traços e elementos religiosos na narrativa, como a Menina-Oráculo - que o que ele acha que causou o fim daquele povo foi a sua "crueldade" e "imoralidade" (representada através dos sacrifícios na cidade, o massacre na vila, entre outros). Os conflitos intertribais e a chegada dos europeus foram como uma punição de Deus. Isso - a interferência de Deus - é dramatizado na forma em que o grupo dos indios malvados vai morrendo, sendo eliminados um por um por elementos da natureza (onça, cobra, abelhas, etc). De qualquer forma, é um filme legalzinho, mas mal dirigido. Com um diretor mais competente no comando, poderia ter sido ótimo. E a imagem da camera HD está meio escrota. Para sua consideração: "Os Sacrifícios na Cidade Maia", já entre as melhores cenas de 2007 (no Brasil). Vale por si só o preço do ingresso."


Charada (Stanley Donen, 1963)
(74)

(DVD)

*É super divertido, engraçado, Hitchcockiano, bla bla bla. É sobre como nossa felicidade em relacionamentos depende da nossa tendência instintiva e duvidosa de confiar no próximo. Ou algo assim. Tem uma cena que o Cary Grant toma banho vestido num terno. É informação o suficiente pra você? Que tal uma atuação coadjuvante absolutamente genial (e cômica) de Walter Matthau? Muito bem dirigido e escrito. Nota mental: procurar mais filmes antigos com o Walter Matthau.


O Sacrifício (Andrei Tarkovsky, 1986)
(45)

(DVD; quarta vez)

*Eu não via esse filme a uns 2 ou 3 anos. Um antigo favorito – minha nota antes era um 86, mostrando uma queda de 41 pontos (!) nessa nova assistida – mas agora me parece apenas intermitentemente bom, com vários trechos arrastados e tediosos, especialmente no segundo ato, depois da revelação da possível guerra que estaria acontecendo. Eu acredito que é uma questão da minha fascinação inicial pelo trabalho da Tarkovsky ter decaído com o tempo devido à uma crescente familiaridade (opa, o tema de Time!). O que me parecia exótico e inovador aos 16/17 agora já não é tão grande coisa. O filme ainda tem uma atmosfera densa, mas o Tarkovsky abusa tanto do ritmo ponderado que ela acaba se desintegrando (eu também descobri nesse período de 3 anos que economia é uma boa qualidade). Os primeiros 40 minutos são bastante agradáveis, retratando a dinâmica da família e o clima sazonado e suave do dia do aniversário do protagonista (Erland Josephson, numa atuação fantástica), com o carteiro Otto trazendo um certo senso de humor. Mas a alteração de tom na segunda metade meio que faz tudo desabar. O que resta de excitante são só as montagens surreais que só o Tarkovsky sabe fazer.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Meu Tio Misterioso é Mulher de Verdade

No Silêncio da Noite (Nicholas Ray, 1950)
(78)

(DVD; segunda vez)

*Roteiro maravilhoso – se um pouco teatral, prendendo os atores em cenários pequenos por longos períodos – cada fala uma mordida, perspicácia em abundância raramente vista, e um jeito habilidoso de cimentar a Tragédia do filme, tornando-a tanto inevitável quanto melancólica. Aliás, a história em si é tão sombria e deprimente - e de um jeito tão eficaz - que você se sente fisicamente mal no fim do filme (crédito também do Nicholas Ray, que filma tudo num nível ferozmente emocional). Bogie e Gloria Grahame rebatem falas um do outro com perfeição, e o casal que eles formam parece ideal – percebe-se que a Grahame é a única mulher que Bogie conheceu com a frieza e esperteza necessárias para agüentar o seu temperamento problemático. Ganha alguns pontos extras da minha parte por ser sobre um roteirista, perde outros por ir dissipando a energia inicial. Mas com falas como “It was his story against mine, but of course, I told my story better”, eu não posso reclamar. Excelente.


Crepúsculo dos Deuses (Billy Wilder, 1950)
(77)

(DVD)

*É isso que dá demorar pra comentar sobre os filmes: eu já não lembro de muita coisa, detalhes interessantes, etc. O que eu sei é que, ao contrário de No Silêncio da Noite, este (outro filme envolvendo um roteirista! No mesmo ano!) começa empacando e vai ganhando força com o tempo. Passei um período discutindo comigo mesmo se a atuação desenfreada da Gloria Swanson é apropriada ou não (a personagem era uma estrela de cinema mudo, né?), mas quando o debate se acalmou, os momentos mágicos começaram a surgir. O ambiente criado por Swanson e seu mordomo para iludir ela mesma (a achar que ainda era uma venerada estrela) é interessante de se observar, mas você não entende emocionalmente o que está em jogo para a personagem até a fantástica, arrepiante cena onde ela visita um estúdio e é cercada por atores e trabalhadores do local, observada como se fosse uma espécie de pavão em extinção (o que, de certa forma, ela é). Final inesquecível, etc.


Distant (Nuri Bilge Ceylan, 2002)
(57)

(DVD)

*Várias coisas me influenciaram contra o filme: 1) a cópia que eu baixei (e gravei em DVD) era dublada em italiano – e eu, esperto como sempre, só fui perceber depois de uns 20 minutos (pensamento durante o filme: “Eu não sabia que a língua turca soava tanto como a italiana!”) – 2) a gravação pra DVD em si estava problemática, com o filme dando uns leves “pulos” de 15 em 15 segundos (culpa da mídia de merda); 3) é um filme seguindo o padrão “arthouse mastershot” – planos longos, cuidadosamente compostos (nesse caso, com ênfase na distinção do primeiro plano e do fundo) – que é muito mais apropriado para uma telona de cinema, sem falar que o filme é geralmente lindo de se ver. Então teve essas merdas. Mas vários momentos (geralmente cômicos) ainda ficaram gravados na minha cabeça, especialmente a tentativa inicial do viajante de flertar com uma moça na rua – colocando óculos, fazendo uma pose-James Dean encostado num carro, disparando o alarme do carro – e o plano do navio deitado, coberto de neve.


Meu Tio da América (Alain Resnais, 1980)
(69)

(DVD)

*Filme extremamente interessante; idéia fascinante, execução deixa a desejar. Etc. Suponho que seja mais eficaz ainda pra quem não conhece nada sobre psicologia evolucionária, teorias biológicas de comportamento, etc. Vou rever algum dia. Sem energia pra prosseguir.


Mysterious Object at Noon (Apichatpong Weerasethakul, 2000)
(60)

(DVD)

*Como o filme do Resnais, é uma idéia fascinante – fazer um documentário onde é pedido de cada entrevistado que continuem uma história fictícia do jeito que quiserem, e entrecortar tais entrevistas-narrações com encenações da história – e uma execução que deixa a desejar. O “Joe” é um dos meus cineastas atuais favoritos, mas pode-se ver que as principais qualidades que me conquistam nos filmes dele – como a atmosfera densa e sensual, etc – não estavam tão presentes neste primeiro projeto dele. A qualidade da imagem/som não estava ótima na minha cópia, mas claramente preto-e-branco não é uma boa idéia pra ele – é muito opressivo, a imagem não parece respirar como a dos seus filmes seguintes. E o jeito que ele lida com o conceito é meio desleixado: as encenações estão rígidas/amadoras demais, e o ritmo lento do filme não é só uma questão de ponderação – parece que o Joe não fazia muita idéia de como estruturá-lo direito. Ainda é fascinante, cresce na sua mente depois que acaba, e tem várias cenas sublimes. Destaque para a encenação teatral da história, a velha maluca/bêbada, e as criancinhas se esbarrando enquanto decidem o destino dos personagem, e implodindo completamente a história. Próximo passo: seu segundo filme, Blissfully Yours.


Mulher de Verdade (Preston Sturges, 1942)
(61)

(DVD)

*O Sturges, na teoria, soa maravilhoso. Mas na prática, algo ainda me impede de me envolver completamente com seu trabalho. Tanto esse quanto Contrastes Humanos (que eu gosto um pouco mais) são filmes claramente sofisticados e, de certa forma, ambiciosos, mas eu admiro de uma certa distância. As falas são afiadas, mas elas não costumam me fazer gargalhar, como Hawks ou Lubitsch. A decisão (possivelmente intencional) de fazer a personagem da Claudette Colbert ter que escolher entre um zé-ninguém sem muita personalidade ou graça (portanto, valorizando o amor) e um ricaço com um certo charme tonto (portanto, valorizando o conforto, dinheiro, etc) é esperta – um filme genérico de Hollywood faria o zé-ninguém ser maravilhoso e o ricaço ser um otário – mas eu nunca me senti muito envolvido no dilema. E não doeria se o Sturges puxasse um pouco as rédeas e tentasse estabelecer outras formas de se expressar sem precisar escrever 8 páginas de diálogo por cena. Mas é um filme bom, e recomendado, sem dúvida.

Próximos capítulos: Dobradinha Bong (bong bong?)! Filhos da Esperança! Arcade Fire! Top 10s! Entre outros...