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terça-feira, fevereiro 06, 2007

Meu Tio Misterioso é Mulher de Verdade

No Silêncio da Noite (Nicholas Ray, 1950)
(78)

(DVD; segunda vez)

*Roteiro maravilhoso – se um pouco teatral, prendendo os atores em cenários pequenos por longos períodos – cada fala uma mordida, perspicácia em abundância raramente vista, e um jeito habilidoso de cimentar a Tragédia do filme, tornando-a tanto inevitável quanto melancólica. Aliás, a história em si é tão sombria e deprimente - e de um jeito tão eficaz - que você se sente fisicamente mal no fim do filme (crédito também do Nicholas Ray, que filma tudo num nível ferozmente emocional). Bogie e Gloria Grahame rebatem falas um do outro com perfeição, e o casal que eles formam parece ideal – percebe-se que a Grahame é a única mulher que Bogie conheceu com a frieza e esperteza necessárias para agüentar o seu temperamento problemático. Ganha alguns pontos extras da minha parte por ser sobre um roteirista, perde outros por ir dissipando a energia inicial. Mas com falas como “It was his story against mine, but of course, I told my story better”, eu não posso reclamar. Excelente.


Crepúsculo dos Deuses (Billy Wilder, 1950)
(77)

(DVD)

*É isso que dá demorar pra comentar sobre os filmes: eu já não lembro de muita coisa, detalhes interessantes, etc. O que eu sei é que, ao contrário de No Silêncio da Noite, este (outro filme envolvendo um roteirista! No mesmo ano!) começa empacando e vai ganhando força com o tempo. Passei um período discutindo comigo mesmo se a atuação desenfreada da Gloria Swanson é apropriada ou não (a personagem era uma estrela de cinema mudo, né?), mas quando o debate se acalmou, os momentos mágicos começaram a surgir. O ambiente criado por Swanson e seu mordomo para iludir ela mesma (a achar que ainda era uma venerada estrela) é interessante de se observar, mas você não entende emocionalmente o que está em jogo para a personagem até a fantástica, arrepiante cena onde ela visita um estúdio e é cercada por atores e trabalhadores do local, observada como se fosse uma espécie de pavão em extinção (o que, de certa forma, ela é). Final inesquecível, etc.


Distant (Nuri Bilge Ceylan, 2002)
(57)

(DVD)

*Várias coisas me influenciaram contra o filme: 1) a cópia que eu baixei (e gravei em DVD) era dublada em italiano – e eu, esperto como sempre, só fui perceber depois de uns 20 minutos (pensamento durante o filme: “Eu não sabia que a língua turca soava tanto como a italiana!”) – 2) a gravação pra DVD em si estava problemática, com o filme dando uns leves “pulos” de 15 em 15 segundos (culpa da mídia de merda); 3) é um filme seguindo o padrão “arthouse mastershot” – planos longos, cuidadosamente compostos (nesse caso, com ênfase na distinção do primeiro plano e do fundo) – que é muito mais apropriado para uma telona de cinema, sem falar que o filme é geralmente lindo de se ver. Então teve essas merdas. Mas vários momentos (geralmente cômicos) ainda ficaram gravados na minha cabeça, especialmente a tentativa inicial do viajante de flertar com uma moça na rua – colocando óculos, fazendo uma pose-James Dean encostado num carro, disparando o alarme do carro – e o plano do navio deitado, coberto de neve.


Meu Tio da América (Alain Resnais, 1980)
(69)

(DVD)

*Filme extremamente interessante; idéia fascinante, execução deixa a desejar. Etc. Suponho que seja mais eficaz ainda pra quem não conhece nada sobre psicologia evolucionária, teorias biológicas de comportamento, etc. Vou rever algum dia. Sem energia pra prosseguir.


Mysterious Object at Noon (Apichatpong Weerasethakul, 2000)
(60)

(DVD)

*Como o filme do Resnais, é uma idéia fascinante – fazer um documentário onde é pedido de cada entrevistado que continuem uma história fictícia do jeito que quiserem, e entrecortar tais entrevistas-narrações com encenações da história – e uma execução que deixa a desejar. O “Joe” é um dos meus cineastas atuais favoritos, mas pode-se ver que as principais qualidades que me conquistam nos filmes dele – como a atmosfera densa e sensual, etc – não estavam tão presentes neste primeiro projeto dele. A qualidade da imagem/som não estava ótima na minha cópia, mas claramente preto-e-branco não é uma boa idéia pra ele – é muito opressivo, a imagem não parece respirar como a dos seus filmes seguintes. E o jeito que ele lida com o conceito é meio desleixado: as encenações estão rígidas/amadoras demais, e o ritmo lento do filme não é só uma questão de ponderação – parece que o Joe não fazia muita idéia de como estruturá-lo direito. Ainda é fascinante, cresce na sua mente depois que acaba, e tem várias cenas sublimes. Destaque para a encenação teatral da história, a velha maluca/bêbada, e as criancinhas se esbarrando enquanto decidem o destino dos personagem, e implodindo completamente a história. Próximo passo: seu segundo filme, Blissfully Yours.


Mulher de Verdade (Preston Sturges, 1942)
(61)

(DVD)

*O Sturges, na teoria, soa maravilhoso. Mas na prática, algo ainda me impede de me envolver completamente com seu trabalho. Tanto esse quanto Contrastes Humanos (que eu gosto um pouco mais) são filmes claramente sofisticados e, de certa forma, ambiciosos, mas eu admiro de uma certa distância. As falas são afiadas, mas elas não costumam me fazer gargalhar, como Hawks ou Lubitsch. A decisão (possivelmente intencional) de fazer a personagem da Claudette Colbert ter que escolher entre um zé-ninguém sem muita personalidade ou graça (portanto, valorizando o amor) e um ricaço com um certo charme tonto (portanto, valorizando o conforto, dinheiro, etc) é esperta – um filme genérico de Hollywood faria o zé-ninguém ser maravilhoso e o ricaço ser um otário – mas eu nunca me senti muito envolvido no dilema. E não doeria se o Sturges puxasse um pouco as rédeas e tentasse estabelecer outras formas de se expressar sem precisar escrever 8 páginas de diálogo por cena. Mas é um filme bom, e recomendado, sem dúvida.

Próximos capítulos: Dobradinha Bong (bong bong?)! Filhos da Esperança! Arcade Fire! Top 10s! Entre outros...

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ainda não assisti nenhum filme dos resenhados por você dessa vez, portanto não há muito o que falar aqui. Apenas que estou querendo assistir Crepúsculo dos Deuses e Meu Tio da América há um certo tempo.
Por falar em Resnais, qual é sua nota para o Hiroshima Meu Amor, se quiser discorra sobre também...
dobradinha Bong? The Host e Memories of Murder? I-haa! tô precisando ver o segundo.

5:31 AM  
Anonymous Anônimo said...

Seu blog eh legal pelo conteúdo de informações. Mas ficaria melhor se p cada filme vc colocasse o poster ou alguma foto... de tam,anho pqno senao sobrecarrega.

7:33 AM  
Blogger Luis Calil said...

Gandalf: eu vi HIROSHIMA a uns 5 anos atrás, quando eu ainda estava na minha "época de formação". Eu achei o filme tanto fascinante quanto entediante, provavelmente por falta de costume. Preciso rever, embora eu ainda lembre bem daquela montagem inicial dos sobreviventes da bomba.

Rafael Lemos: por que a necessidade de poster/fotos? Eu não vejo muita utilidade, e além do mais, eu sou muito preguiçoso.

11:27 AM  
Anonymous Anônimo said...

Preguiça acima de tudo. O ócio é amigo, vejam os grandes filósofos.

2:25 PM  

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