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quinta-feira, janeiro 25, 2007

Déja Vel. Babu.

Babel (Alejandro González Iñarritu, 2006)
(48)

(cinema)

*Tirando a subtrama da garota surda-muda japonesa, nenhuma das outras possui qualquer forma de drama de verdade (i.e. psicológico, conflitante). São simplesmente histórias onde você segue alguns personagens até um ponto onde algo bem estúpido e forçado acontece, e depois vê como os personagens lidam com isso. Mas senhor Guillermo Arriaga (o roteirista), qualquer otário pode escrever isso! Pegue o segmento situado em Marrocos (pra eu não ter que estragar nada, já que o que acontece neste segmento aparece no trailer): o pai de dois garotos compra um rifle, e o entrega para que os meninos o usem pra caçar lebres (ou alguma merda assim). Eles começam a brincar de dar tiros em pedras, e eventualmente, um dos dois pentelhos decide disparar um tiro contra um carro. É claro, para acreditar que algum menino faria isso, é necessário uma grande quantidade de boa vontade, o que eu estava disposto a dar naquele ponto do filme. Ainda sim, a trama em Marrocos realmente acaba . O resto envolve a polícia chegando, os meninos contando pro pai o que aconteceu, e eles fugindo (e no final algo ruim acontece). Não há conflito, não há detalhes, e nem chega a envolver diretamente o tema unificante do filme, que é sobre como a dificuldade em comunicação resulta em conflito (ainda mais num mundo cada vez mais globalizado/interconectado). Se este segmento virasse um curta, independente das outras sessões, a sua inutilidade ficaria ainda mais evidente, e a sua "mensagem" seria algo idiota como "não dê armas para seus filhos" ou "não brinque com armas atirando em carros".

*Semelhantemente, o segmento do Brad Pitt - também sem qualquer vestígio de Drama de verdade - pode ser resumido como "não leve um tiro no deserto, senão você vai se ferrar", e a subtrama da empregada que leva os filhos para o México pode ser resumida como "não tenha um primo maluco chamado Gael Garcia Bernal" (o incidente que leva ao conflito desse segmento é tão estúpido que precisa ser visto para ser acreditado).

*Já a subtrama da japonesa realmente possui interesse, e explora não acidentes forçados, mas comportamento humano básico. Envolve uma garota surda-muda que não consegue se conectar com as pessoas através de comunicação tradicional (tema!), então começa a usar sua sexualidade (impulsionada pela puberdade) como uma forma substituta de comunicação. Ela começa a lamber o rosto do dentista dela, mostrar a vagina para jovens que esnobam ela, etc. São ótimas cenas, e somadas ainda à experiência dela numa boate - com o Iñarritu habilmente cortando entre o ponto de vista dela (silêncio) e o da boate (música alta) - formam pelo menos um segmento que tem detalhes e interesse o suficiente para se tornar um curta independente do resto. E a Rinko Kikuchi é talentosa, além de ser sexy.

*Mas se eu estou predominantemente esculachando o filme, porque a nota tão alta? Francamente, nem sei mais. Quando eu saí do cinema, estava por volta de 54, mas foi caindo ao longo do dia, e hoje um 48 parecia bem mais sensato. Eu devo admitir que enquanto estava na minha frente, o filme fez efeito o suficiente para me manter pelo menos parcialmente interessado nos acontecimentos (apesar das idiotices). O Iñarritu tem algum talento como diretor - veja a previamente citada cena da boate, ou a montagem da festa de casamento mexicana - e ele se cerca de rapazes talentosos: Rodrigo Pietro (de A Última Noite) na fotografia, e Gustavo Santaolalla (de O Segredo de Brokeback Mountain) compondo a trilha, ambos fazendo muito bom trabalho. E embora seja uma técnica barata e descartável, cortar entre várias subtramas diferentes ainda consegue criar uma certa tensão e interesse (quando seguir uma só delas geralmente acabaria em tédio) - e é por isso que tal técnica está cada vez mais popular (e.g. o horroroso Crash). O problema é Guillermo Arriaga, que consegue escrever diálogos clichês e idéias mal-passadas em 4 línguas diferentes (veja só!). Eu ouvi falar que ele e Iñarritu tiveram algum tipo de desentendimento, e vão parar de trabalhar juntos. Acho que pode se apontar para uma nova esperança em Iñarritu como um cineasta competente; basta ele não achar alguém ainda mais idiota para substituir Arriaga.


Déja Vu (Tony Scott, 2006)
(63)

(cinema)

*Eu não tenho muita paciência para os delírios estilísticos ultra-exagerados que o Tony Scott anda utilizando recentemente (desde que ele "dominou sua técnica"), e prefiro seu trabalho competente e mais "sutil" em algo como Dias de Trovão (sim, é bom). Mas quando ele tem um roteiro decente nas mão, ele até que não atrapalha muito. E o roteiro deste filme - apesar de usar uma "lógica" de viagens no tempo que na verdade é totalmente ilógica (resumindo, basicamente nada no filme faz sentido) - é bom, gerando suspense e ação da premissa furada, e mantendo um rítmo forte e uma apreciável falta de estupidez e clichês (só de pensar que Deja Vu tem menos clichês que um filme indicado ao Oscar...); i.e. é digno de Larry Cohen. Terry Rossio, um dos roteiristas, tem um certo talento de sempre dar um leve toque de frescor pra grande parte das situações batidas - e eu sei que é intencional porque já li suas boas colunas sobre criação de roteiro. E o que Rossio e seu co-escritor Bill Marsilii conseguiram alcançar com a cena de perseguição de carros em duas linhas de tempo - excitante, original, digna de aplausos, etc - é o tipo de coisa que perdoa muitos furos e erros.


PS: Filhos da Esperança aparentemente não entrou em cartaz, foi só um erro do Cineclick.

PPS: Eu provavelmente vou escrever algum tipo de top 10 dos melhores filmes que estrearam comercialmente no Brasil em 2006, em breve.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Meu teclado está uma bosta, portanto, eu não estou com paciencia para escrever muito além da passagem que me chamou mais atenção no seu texto:
Concordo que a história da japa seja a melhor, porém na parte da boate eu concordo em parte, como você já deve ter visto no fórum... bem, o que você comentou definitivamente aparentou ser bem foda, mas quando a cena segue é aquela explosão de luzes e até digamos uma psicodelia momentanea não combinaram muito com o momento, por mais que eles estivem sob efeito de drogas, essa cena chegou a me causar uma certa irritação depois de um tempo!
Além disso, você (realmente) gostou da direção dele? Isso não ficou tão claro no texto para mim. Achei que ele abusou de closes dando uma dimensão claustrofóbica a coisa que não houve necessidade em alguns momentos. Ele pode ter salvação (confeso que nem lembro o que achei dele no 21 Gramas), mas nesse filme ele foi fraco. Acho que não só por culpa do retardado do Arriaga.

1:35 AM  
Blogger Luis Calil said...

Eu não senti nenhuma irritação na cena da boate. Aliás, o que eu estava pensando no momento era como o Iñarritu tinha conseguido capturar fielmente a experiência de estar numa boate. E eu achei as variações de POV - de silêncio pra barulheira - foram desconfortantes, de certa forma, mas o propósito foi justamente espelhar o desconforto da garota.

Sobre a direção, eu achei competente. Alguns momentos poderiam ter sido lidados com mais sutileza - principalmente como uma forma de segurar um pouco o ultra-melodrama do roteiro do Arriaga - mas em geral eu não tive problemas com ela.

To pensando aqui. Você reclamando de closes claustrofobicos e de que a cena da boate foi irritante... Será que tu não sentou perto demais da tela não?

12:45 PM  
Anonymous Anônimo said...

eu sentei perto da tela e gostei da cena. Não sei se a japonesa é a melhor, a que tem mais potencial (porque o filme desenvolve tudo de forma meio retardada) ou simplesmente eu gostei mais dela pq ela é gatinha e aparece o tempo todo com aquele roupa de colegial provocante/pelada. A atuação dela é bem boa, eu acho.
Uma sinopse pra esse Babel seria "Pessoas retardadas fazem cagadas que terminam em tragédia".
Também gostei de Deja Vu. Nunca pensei que diria isso de um filme do Tony Scott depois de Chamas da Vingança, quando metade da sala teve um ataque epilético.

3:15 AM  
Anonymous Anônimo said...

Luis, acho que a irritação que o Gandalf sentiu foi a mesma que senti. Quando piso em casas noturnas, boates e todas esses lugares onde tem várias luzes incessantes, eu sempre fico com dor de cabeça e por isso a cena me irritou, ela teve a captação perfeita.

O ruim do filme foi o que comentamos na SPIFF, parece que o Iñarritu não quer sair dessa fórmula, quer manter esse estilo que deu 'certo' nos outros filmes dele. Ele mesmo comentou para Folha de São Paulo logo depois de levar o GLobo de Ouro: "Acho que estou fazendo o mesmo filme".

Acho que tanto 21 gramas como Babel criam uma tensão desnecessária que não leva a nada, nem simpatia pelas personagens, misericórdia, etc. Tanto que ele evita fazer coisas que parecem óbvias como a japinha se matando ou a empregada tendo problema, etc.
Pelo menos ele não retalhou o filme na edição dessa vez.

8:45 AM  
Anonymous Anônimo said...

Eu não gostei do 21 gramas. Aliás, achei um grande saco misterioso que me fez assistir até o final pelo puro pensamento "é só essa bosta?".

2:29 PM  

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